domingo, 4 de setembro de 2011

Ethan McCord e tudo o que fazemos quando somos doutrinados

Assisti ao programa Dossiê e fiquei muito sensibilizada com a matéria sobre Ethan McCord.

Ethan McCord fardado.

Ethan é um ex-soldado americano que esteve na guerra do Iraque. Seu nome e de um amigo ficaram conhecidos pela publicação de uma carta de desculpas ao povo iraquiano pelas atrocidades que cometaram juntamente com o exército de seu país. A carta causou muitos danos ao soldado (que teve seus filhos ameaçados de morte e obteve a repulsa de vários ex-combatentes)  mas trouxe um pouco de paz a seu espírito, visto que em sua declaração ao Dossiê disse que será assombrado até à sua morte pelos rostos das pessoas que matou. Armadas e desarmadas.

Foto de mortos na guerra iraquiana

O caso do Ethan me remete à outros milhões de casos. Pessoas são doutrinadas todos os dias em locais completamente diferentes pelo mundo afora. Em nome de Deus, do país e de tudo o mais elas são fantoches nas mãos dos que as manipulam.

Ethan McCord - ex-soldado americano que esteve na guerra no Iraque

Muitas vezes nos transformamos para pertecer a um lugar, para fazer parte de determinado grupo e nem percebemos. Mudamos nossas roupas, nosso jeito, tudo para sermos aceitos e não conseguimos enxergar o que essas influências estão fazendo ao que somos.

Ethan revelou que fora disciplinado de tão maneira (juntamente com os outros soldados), que era uma ordenança aceitável em sua mente a matança à todos os iraquianos. Se uma bomba explodisse e jovens estivessem jogando futebol em um campo próximo: eram mortos. Se fossem atingidos por algo de surpresa e à sua volta estivessem mulheres e crianças em um quintal: eram mortos. 

Sua mente mudou e o fez pensar na crueldade que estavam imputando àquelas pessoas inocentes quando transportou duas crianças em seu carro de combate. As crianças conseguiram levar seu pensamento aos seus próprios filhos. Já não atirava nas pessoas e sim em telhados, pois se não atirasse seria punido. Então fingia.

Todas as pessoas que vivem em grupo ou são forçadas a pertencerem à determinado grupo de trabalho, são muitas vezes conduzidas ao erro. Algumas pessoas dizem: ela não está vendo que isso é errado? Ele não sabe? Posso dizer por experiência própria que às vezes não percebemos que nossa consciência está sendo cauterizada bem à nossa frente.

Muitas vezes andamos juntamente com pessoas que não percebemos quem são e seus reais interesses. Existem mensagens que são enviadas à nossa mente subliminarmente. 

Lembro-me de uma vez que fui fazer um teste para um comercial da nissim miojo. Voltei do estúdio maquiada e arrumada e fui direto para uma reunião em uma determinada igreja. Revivo esse instante ao escrevê-lo... as pessoas olharam-me com espanto e julgaram-me por estar tão arrumada e chamando a atenção. Posso lembrar a sensação ruim que senti, o peso e a culpa. Senti-me errada por estar tão bonita. Incrível isso.

Eu quis pertencer e mudei o que não precisava, pois a mudança no homem deve ser interna. Isso é o que realmente interessa e transforma todo o resto.

A ambiência proposta, aquela sociedade, aquelas regras impostas ao lugar estavam gritando ao meu psicológico: ISSO É ERRADO! MUDE!

As regras que Ethan viveu o transformaram, feriram com a dor interna que não pode ser mensurada por ninguém. Muitas pessoas sofrem isso. Em casos ligados às suas profissões (como no outro post sobre a atriz Mariana), religiões, famílias... culturas... pensar nas meninas que são mutiladas ainda em crianças e têm seu clitóris arrancado pois só o homem pode ter prazer é um desses horrendos casos. Uma avó disse que sabia que isso era errado mas tinha que fazer com sua neta pois ela também havia sofrido isso. É uma violência, uma mutilação no corpo e na alma.

Como podemos ser tão impulsionados pela massa? A sociologia fala dessa análise comportamental, dessa opressão que aqueles que se libertam sofrem para seguirem a boiada.

Graças a Deus existem pessoas que vão. Pessoas que no meio do que são obrigadas a viver conseguem perceber a violência que estão praticando a si mesmas e muitas vezes aos outros. Enxergam-se e vêm que não pertecem àquelas atitudes e muito menos àquela crença de que em nome de quem for podemos tudo, inclusive matar aos outros e à nós mesmos.

Essa violência interna acaba com o que somos. A depressão e tristeza, a repulsa e vergonha invandem a alma quando estamos agindo de forma desconexa com o que realmente somos e sentimos. Podemos permanecer por algum tempo no erro, mas fatalmente algo dentro de nós irá sinalizar que estamos na direção errada.

Uma pessoa para quem trabalhei na minha área explorou-me durante um longo tempo. Seu trabalho psicológico era tão bom e tão bem feito que fazia-me sentir útil, pertencendo àquilo... e feliz com isso. Algum tempo depois, quando "cresci" no que fazia percebi que havia uma exploração da minha amizade e inexperiência. Enfim, cresci e enxerguei. Mudei os fatos. Abandonei aquele trabalho, mas confesso que aprendi muito naqueles anos.

Assim são as coisas. Acontecem. 
É triste, mas muitas coisas servem de alicerce e direção para um futuro diferente.

Ethan é um porta-voz contra a guerra, contra a violência.

Somos capazes de cometer grandes erros, no entanto somos capazes de acertar a nossa vida e ajudar às pessoas que podem cometer ou estão cometendo os mesmos erros que nós quando seguimos nossas verdades e nos responsabilizamos pelo que somos e pelo que fazemos. 

Os acertos podem não repercutir tanto quanto os erros, 
mas com certeza são a melhor parte de nós.



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