sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Piscina ou mar aberto?

Percurso final para que mais um ano se vá. E estou assim: descansando em mim.

Não há lugar mais honesto do que o Eu.

Nada mais sincero e diretivo.

Uma agitação envolve o todo. Tantas e tantas coisas a serem feitas. O trabalho não para. É como se continuamente estivéssemos guerreando, sabe-se lá com quem, contra quem... mas nunca para.

O tempo é uma máquina de tortura para esses dias. Nos assombra. Nele não cabe o dia e nem a noite. Não cabe. 

A mente fragmenta acontecimentos com míninas palavras. O tempo, a pressa... 

Nesse percurso final de 2011, depois de abrir uma escotilha esquecida no alto da alma, resolvi: descanso em mim.

Claro, não é possível ter descanso no Eu tal qual enxergamos na literalidade da palavra, porém há certezas e concretude nesse descanso. Há clareza e postura nele. Há aceitação do que há no Eu, há aceitação da complexidade.

Clarice Linspector já falava do eu de forma intensa e poética, enlaçadamente complexa. O estudo do pensamento, da alma, emoções e suas linguagens é  - estudo atual e "sempre". 

"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."

Mesmo sendo tão intenso esse descanso, ainda é melhor do que a superfície que oferecem-nos.

Não dá pra nadar na piscina tendo um mar tão grande a vista. Não se pode negligenciá-lo. As águas paradas e a visão do fim do espaço onde se reservam, ou o cheiro da brisa, o movimento das águas e o sol pondo-se ao infinito?

Piscina ou mar aberto?

Eu me respondi e estou nadando. Há pessoas que não se respondem exatamente porque não se perguntam. Há pessoas que não se olham. Não se deixam ver. Claro. Posições custam e causam transtornos. Coragem para ir além do que se vê é o que move aquele que deseja chegar ao fim de um trajeto, aprender no percurso e vestir a roupa devida para tal travessia. Para não ter fome nem frio. Para estar cuidado no caminho previsto, ainda que esteja certo que o imprevisto é o certo a ser visto no caminho.

Claro, não preciso revelar onde nado. Minhas braçadas são únicas. Ninguém nada por mim. Mesmo se alguém pedisse tal honra, eu não poderia deixar. A oportunidade de sentir o que as águas proporcionam é de quem as braçadas dá.


"Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesmo; se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz."
Clarice Linspector. 


Quem somente guarda o que tem não multiplica.
Quem olha o tempo não semeia.
Quem tem medo do que não domina será dominado pela vida que fácil
 e gélida que foi escolhida.
Piscina ou mar aberto°
Tenha medo não.
Há salva-vidas...

 

Um comentário:

Eu disse...

Adorei o texto. É essa pressa cotidiana, esse invisível que nos move em uma busca diária e frenética, bem complicado.