O quanto a riqueza cultural do continente Africano seduz-me e envolve-me com suas cores, a valorização da ancestralidade, a história de suas máscaras, de suas letras, sua poética.
Lembro-me das aulas de cultura africana que tive na faculdade saudosamente.
Separando toda leitura que tenho que concluir, tudo que quero começar e recomeçar, encontro Mia Couto. Poesia e prosa com toda africanidade exposta.
Reparto um bocado do que aquece-me a alma...
O BEIJO E A LÁGRIMA
Quero um beijo, pediu ela.
Um sismo
abalou o peito dele.
E devotou o calor
de lava dos seus lábios,
entontecida água na cascata.
Entusiamado,
ele se preparou para, de novo,
duplicar o corpo e regressar à vertigem do beijo.
Mas ela o fez parar.
Só queria um beijo.
Um único beijo para chorar.
Há anos que não pranteava.
E a sua alma se convertia
em areia do deserto.
Encantada,
ela no dedo recolheu a lágrima.
E se repetiu o gesto
com que Deus criou o Oceano.
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